quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A busca pela Identidade



Entrar no mundo dos adultos – desejado e temido – significa para o adolescente a perda definitiva de sua condição de criança.
As mudanças psicológicas que se produzem neste período e que são correlação de mudanças corporais levam a uma nova relação com os pais e com o mundo.
A imagem que tem do seu corpo mudou também sua identidade. Muitas vezes, o adolescente tem a tarefa de confrontar a identidade versus confusão de identidade para tornar-se um adulto.
As “panelinhas” e a intolerância para com as diferenças – ambas marcos do quadro social da adolescência – são defesas contra a confusão de identidade.
Os adolescentes podem igualmente demonstrar confusão regredindo a infantilidade para não ter que resolver conflitos ou entregando-se impulsivamente a cursos de ação irrefletidos.
Encontramo-nos com uma multiplicidade de identificações contemporâneas e contraditórias; por isso o adolescente se apresenta como vários personagens: é uma combinação instável de vários corpos e identidades.
Essa identidade de adulto é um sentir-se dolorosamente separado do meio familiar e as mudanças no seu corpo obrigam-no também ao desprendimento de seu corpo infantil. O adolescente provoca uma verdadeira revolução no seu meio familiar e social e isto cria um problema de gerações nem sempre bem resolvido.
Não só o adolescente padece este longo processo, mas também os pais têm dificuldade para aceitar o crescimento como conseqüência do sentimento de rejeição que experimentam frente à genitalidade e à livre manifestação da personalidade que surge dela. Esta incompreensão e rejeição se encontram, muitas vezes, mascaradas debaixo da concessão de uma excessiva liberdade que o adolescente vive como abandono, e que o é na realidade.
Os problemas do adolescente não podem ser banalizados, pois no momento de transição no qual se encontra tudo é muito intenso. É na adolescência que ele irá formar sua personalidade, por isso este precisa ser escutado.
O adolescente necessita de liberdade, porém com limites, com afeto; necessita da presença dos pais para perceber que mesmo neste processo de separação, os mesmos sempre estarão ao seu lado.     

O Corpo na Adolescência


 A adolescência também é caracterizada por alterações físicas muitas vezes dramáticas que levam o individuo da infância para a maturidade física. Estas alterações súbitas e repentinas que estes experimentam dão a eles um sentimento de preocupação e sensibilidade, principalmente quando passam por mudanças que não lhes agrada.
 O corpo na maioria das vezes é estranho para o adolescente, dificilmente ele gosta de todo o seu corpo, ele pode gostar de uma parte e fazer de tudo para melhorá-la e assim escondendo outra que lhe incomoda.
 O adolescente elege o corpo como um símbolo muito importante, pois como ele esta em um processo de separação dos pais ele precisa ser aceito pela sociedade que apresenta um padrão corporal já estável e que muitas vezes não se enquadra com as características apresentadas no momento pelos adolescentes e assim estes acabam sacrificando seu próprio corpo podendo até mesmo adquirir doenças como a bulimia e anorexia.
 Muitas dessas preocupações e doenças estão associadas com a baixa- estima que é adquirida com as mudanças do corpo que muitas vezes não são aceitas devido à “norma” imposta para o adolescente de que “homens ou mulheres só são considerados bonitos se forem musculosos e magros”.    
O Corpo e a Sexualidade
 Uma das questões que também surge na adolescência é a descoberta da sexualidade.
 Identificar-se como um ser sexual, reconhecer a própria orientação sexual, conciliar-se com as excitações sexuais e formar vínculos tudo isso faz parte da formação da identidade sexual.
 Muitas vezes o corpo biológico do adolescente esta preparado para a vida sexual, mas toda a sua maturação psíquica não ocorre. Este acontecimento acaba deixando o adolescente em certo conflito, pois ele é cobrado pela sociedade e pelo grupo de amigos a iniciar sua vida sexual. Esta cobrança pode fazer com que o sujeito tome decisões impensadas causando após desconfortos piores.
 Ao contrário do que o individuo imagina um encontro sexual não é tão simples. Todo individuo é um ser faltoso, e quando há um encontro entre dois sujeitos em uma relação sexual se espera que haja uma completude, porém isso não acontece o que acontece é uma junção das faltas onde nunca se supera todas as expectativas.            

Da escolha profissional

O grupo familiar também é direta ou indiretamente afetado pela escolha da carreira do adolescente, pois alguns pais buscam realizar-se por meio dos filhos e outros sofrem com o desgaste vivenciado pelo filho que tem dificuldade para decidir.
A família, por vezes, assume uma postura de expectativa que faz com que o adolescente se sinta cobrado. O adolescente sente vontade de ter apoio na sua "luta por uma identidade vocacional", mas a capacidade que a família tem para dar apoio está relacionada com o seu grau de expectativa, com os seus conflitos e com a sua capacidade de manejá-los.
O Papel da Família no Momento da Escolha
 O jovem pertence a uma família, que tem uma história e características próprias. Por isso, é considerado essencial para a escolha não somente o conhecimento que ele tem de si mesmo, mas também o conhecimento do projeto dos pais, o processo de identificação e o sentimento de pertencimento à família, o valor dado às profissões pelo grupo, assim como a maneira como o jovem utiliza e elabora os dados familiares.
Neste período se dá uma renegociação de papel e os pais, assim como os jovens, entram em novos estágios. A estrutura familiar é considerada essencial para uma passagem por esta fase.
As crises vivenciadas pelo adolescente e sua família incluem oscilações em sua definição profissional, indagações quanto à escolha de uma profissão rentável e segura, mas que não satisfaz, ou a opção por uma atividade que atrai, mas que não traz estabilidade financeira. Os pais podem reviver os próprios conflitos da adolescência.
O projeto dos pais orienta-se por duas lógicas contraditórias: a primeira, de reprodução, em que o desejo deles é ver o filho continuando a sua própria história e, a segunda, de diferenciação, em que eles desejam que os filhos realizem tudo o que eles próprios não puderam realizar, encorajando a singularidade, a autonomia e a oposição.
A criança seleciona os traços familiares na interação com seus antecedentes e os integra diferentemente na construção da sua personalidade. As escolhas vivenciadas se dão a partir de modelos familiares, que também acabam influenciando no juízo de valores do sujeito acerca das profissões.
A escolha profissional é uma oportunidade de provar a lealdade à família e de cumprir com a sua missão não apenas individual, mas familiar. A criança convive em muitos ambientes e desenvolve mecanismos para lidar com cada um deles, aprende a conviver com os grupos que estão fora da sua casa em vários contextos, o que demonstra que o papel dos pais fica reduzido, se comparado ao ambiente social.

Família



É importante tanto para os adolescentes quanto para os pais compreenderem etimologia da palavra independência. O prefixo in, no inglês, quer dizer dentro, assim, independência é estar dentro da dependência. O que isso que dizer? Para o adolescente é poder existir, se desenvolver como indivíduo e ser respeitado em sua própria casa; para os pais, é poder permitir que o sujeito estruture sua identidade, não deixando de orientá-lo.
O processo de crescimento do jovem implica em contrariar, às vezes de forma intensa, a autoridade paterna, para, a partir daí, reconhecer-se a si mesmo como um indivíduo único e diferenciado. Em função disso, é difícil, muitas vezes, para os pais lidar com esse comportamento. Entretanto, é nesse momento, que o filho não pode se sentir abandonado, pois caso isso ocorra, ele não terá quem transmitir indicativos, direções e determinantes e ao se sentir perdido, lutará para ter a atenção dos pais, começando uma série de problemas da adolescência. Evidentemente, esses conflitos são menos constantes conforme o grau de democracia com que os pais os tratam. Pais democráticos insistem em regras, em normas e em valores importantes, mas estão dispostos a ouvir, a explicar e a negociar. Encorajam os adolescentes a formarem suas próprias opiniões. Por outro lado, há pais que no querem aceitar o crescimento do filho. Eles possuem sentimentos confusos, querem que seus filhos sejam independentes, mas tem dificuldade de “soltá-los”.
Os adolescentes preconizam estar no grupo do que com seus pais. Essa desvinculação não é uma rejeição a família, mas uma resposta a necessidade de desenvolvimento e reflexão sobre a própria identidade.
Famílias com fronteiras mais flexíveis permitem que o adolescente possa transitar e experimentar-se livremente em diferentes territórios, aproximando-se quando se sentem inseguros e afastando-se para experimentar sua independência.
Nesse sentido, a demanda do adolescente por maior independência e participação nas decisões familiares exige uma reorganização nos padrões de funcionamento familiar. Esses serão favorecedores da confiança, aceitação e afeto entre pais e filhos, quando associados a uma comunicação clara e direta. Nesta forma de comunicarem-se, os limites se apresentam nítidos e permeáveis para cada um dos membros do sistema familiar.
Graduar este processo implica em reorganizar o espaço familiar de forma a aumentar a flexibilidade das fronteiras sem que seja comprometida a autoridade dos pais. Por mais que a demanda da fase adolescente, muitas vezes, leve a perder a referência daquilo que, necessariamente, é papel e função familiar, a família deve manter a capacidade de proporcionar um ambiente de segurança, equilíbrio e limites a seus filhos.

Sociabilização

                            Qual a importância dos Grupos Sociais ao adolescer?



Sendo a adolescência um período de transição emocional e de busca por uma identidade própria é comum que o jovem questione e se afaste do meio familiar e procure se vincular a um outro grupo. Os adolescentes que, entre outras coisas, estão passando por transformações físicas, que desafiam a autoridade dos pais, buscam amigos que estejam passando pelos mesmos conflitos procurando solidariedade, segurança, auto afirmação e orientação moral.Além disso, adolescentes que tem amizades próximas geralmente são mais sociáveis, se saem melhor nos estudos,são menos hostis,deprimidos e ansiosos,e tem uma boa auto-estima.
Mas a busca por estar inserido em um grupo costuma ser traumática, já que para ser aceito o adolescente pode inibir as características pessoais almejando se adequar às características do grupo.
A necessidade de estar atualizado, freqüentar os mesmos lugares, escutar as mesmas músicas e ter o mesmo perfil intelectual e físico, levando-se em conta apenas o que o sujeito representa e não o que realmente é ou pensa, são exemplos disso.
Buscando identificação os adolescentes elegem "ídolos", que pode ser representado tanto por pessoas que convivem no mesmo meio que ele quanto por artistas e pessoas famosas. Mas essas representações nem sempre são um exemplo de "integridade". Um adolescente criado em uma favela, por exemplo, tem a tendência a ter como herói os líderes de atividades ilegais, acarretando um desvio moral e psicológico que em muitas vezes é irreversível.
Essas escolhas, tanto de ídolos quanto de amigos, servem de preparação para relacionamentos na vida adulta, além de ter grande influência na construção da identidade do sujeito.

Afinal, o que é Adolescência para a Psicologia?

A adolescência é uma fase evolutiva na vida do ser humano onde se busca uma nova forma de visão de si e do mundo; uma reedição de todo o desenvolvimento infantil visando definir o caráter social, sexual, ideológico e vocacional. Esse processo evolutivo ocorre dentro de um tempo individual e de forma pessoal em que o adolescente se vê envolvido com as manifestações de seus impulsos intuitivos exteriorizados através de suas condutas nem sempre aceitas como normais pela sociedade.
Podemos dizer que adolescência é sinônimo de crise, pois o adolescente, em busca de identidade adulta, passa para o período “turbulento” (variável segundo o seu ecossistema (sócio-familiar)).
Segundo a teoria kleiniana, essa fase poderia ser definida como correspondente à positiva elaboração da posição depressiva.
A essa crise provocada pela ampla e profunda desestruturação em todos os níveis de personalidade, segue-se um processo de reestruturação, passando por ocasiões nas formas de exprimir-se ao longo dos anos.
O eixo central dessa reestruturação é o processo de elaboração dos lutos gerados pelas três perdas fundamentais desse período evolutivo:
1.Perda do corpo infantil: nessa fase o adolescente vive com muita ansiedade as transformações corporais ocorridas a partir da puberdade, as quais exigem dele uma reformulação de seus mundos interno e externo.
Muitas vezes, as restrições familiares e sociais para controlar esses impulsos ameaçam tanto o seu desenvolvimento que chega a causar retardo em seu crescimento e no aparecimento natural das funções sexuais próprias dessa fase.
2.Perda dos pais da infância: os pais, antes idealizados e supervalorizados, passam a ser alvo de críticas e questionamentos.
Dessa forma, o adolescente busca figuras de identificação fora do âmbito familiar. Nesta fase caracteriza-se a dependência/independência dos filhos em relação aos pais e vice-versa; é o momento em que o adolescente busca substituir muitos aspectos da sua identidade familiar por outra mais individual.
3.Perda da identidade e do papel sócio-familiar infantil: da relação de dependência natural do convívio da criança com os pais, segue-se uma confusão de papéis, pois o adolescente, não sendo mais criança e não sendo ainda adulto, tem dificuldade em se definir nas diversas situações de sua cultura.
No caminho para a sua independência, sentindo-se ora inseguro, ora temeroso, busca o apoio do grupo, que tem importante função, pois facilita o distanciamento dos pais permitindo novas identificações.
Para atingir a fase adulta, o adolescente deverá fazer uma síntese de todas essas identificações desde a infância.
O adolescente exterioriza os seus conflitos e formas de elaboração de acordo com suas possibilidades e as do seu meio, com as suas experiências psicofísicas, ocorrendo o que chamamos de “Patologia normal da adolescência”.
Para se compreender e lidar com adolescentes é fundamental que se conheça essa aparente patologia, chamada “Síndrome de adolescência normal”, com as seguintes características:
  1. Busca de si mesmo e da identidade adulta;
  2. Tendência grupal;
  3. Necessidade de intelectualizar e fantasiar;
  4. Crises religiosas;
  5. Deslocação temporal;
  6. Atitudes sociais reinvindicatórias;
  7. Contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta;
  8. Evolução sexual;
  9. Separação progressiva dos pais;
  10. Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo.